Preparando o texto

O último ponto foi dado no arquivo do computador ou no manuscrito. Seu livro está pronto. Entre esse texto e a espiral encadernada que será remetida às editoras há um percurso breve, mas imprescindível, chamado de ‘preparação dos originais’, que envolve revisão de forma e conteúdo, elaboração da apostila e montagem da correspondência.

A primeira revisão do texto é a feita pelo próprio autor. A reescritura é fundamental, bem como o exercício da leitura em voz alta, que ajuda a descobrir palavras repetidas, ecos internos, cacofonias, frases mal elaboradas e parágrafos confusos, dentre várias outras incorreções.

Após montada a versão final impressa e espiralada, ela também deverá ser relida pela última vez antes do início da distribuição do original para as editoras.

Entre todas essas leituras, o ideal é que haja algum tempo de espera, de alguns dias ou até semanas, para que os olhos se desacostumem do conteúdo e possam estar menos viciados com as releituras.

Uma hipótese que é muito bem aceita no mercado editorial é o envio do texto para um profissional habilitado – o mesmo que efetuou a leitura crítica, um revisor ou copidesque – para que ele também leia o texto uma última vez.

Tudo isso, é claro, não implica na ausência de revisão que é feita pelas pessoas treinadas para esse trabalho minucioso no âmbito da editora. No entanto, quanto menos erros o texto apresentar, melhor.

A revisão não corrige apenas a ortografia, a concordância, ou os aspectos gramaticais e de sintaxe, mas também trabalha na estrutura e na composição textual, visando facilitar a compreensão do leitor.

Não custa lembrar que há preparadores que reformulam o conteúdo do texto sem sequer informar ao escritor sobre as alterações realizadas. Apesar de muitos autores ficarem extremamente irritados com essa prática, nada se há de fazer. É que normalmente o contrato de edição admite tais modificações e, além disso, os prazos exíguos da editora justificam a possível ausência de comunicação adequada com os tantos autores contratados (o bom relacionamento é o forte das editoras menores, enquanto as grandes ganham no marketing, divulgação e distribuição).

A regra, no entanto, é que escritor e editora tenham um contato aberto, transparente e frequente durante todo o processo de publicação, lançamento e pós-lançamento. Não se deve esquecer que esse é um relacionamento que perdura por um longo tempo.

Um caso interessante é o que acontece com o escritor português José Saramago. Ele diz abertamente que tem medo dos revisores, seres com ‘olhos de falcão’ e ‘atados de pés e mãos por um conjunto de proibições mais severas que um código penal’. Por isso, não permite revisões em seu texto, por medo que alterem o sentido do seu texto (in Sobre gramáticos e revisores, por Rubem Alves, disponível no Blog do Galeno).http://www.brasilquele.com.br/uol_texto_ler.php?id=4485&page=13

Assim, quando o preparador ou revisor avançar o sinal vermelho, alterando conteúdos e sensações que o escritor pretende transmitir, este último deve exigir fidelidade ao seu original, de forma que sua obra não se desfigure e seu estilo não se pasteurize.

É importante ficar atento ao fato de que cada editora possui regras próprias para a aceitação dos originais, especialmente quando se fala de livro técnico ou universitário, que seguem normas padronizadas de apresentação. Portanto, é preciso conferir tais informações no site da editora que receberá o livro ou, no caso em que a editora não disponha dessa informação em meio virtual ou mesmo não possua site, no mínimo pode-se ligar para o telefone da editora e pedir informações ao atendente sobre como proceder no envio da espiral.

Se o escritor dispuser de uma consultoria literária, pode ainda entrar em contato com seu consultor para tirar as dúvidas específicas dessa fase, tais como registro no ISBN, preparo do currículo, conteúdo da carta de apresentação e encaminhamento do material.

Depois de depositado o envelope na sede da editora, nada mais resta senão esperar – e esperar é bem complicado.

Essa fase é bastante angustiante pois normalmente o escritor fica sem saber o que faz enquanto aguarda o ‘sim’ da editora – que pode chegar como um ‘não’, ou pior, nem chegar.

Aproveitar esse momento de relaxamento, depois do trabalho intenso com o livro, é uma das melhores saídas. Até porque a intensidade do trabalho até então desenvolvido nem se compara com o que acontece nas fases posteriores à concordância com a publicação da obra.

Se o escritor sentir muita necessidade, não é pecado fazer umfollow-up, isto é, telefonar ou ir à sede da editora para tentar acompanhar o trâmite de seu original. Claro, o original é identificado, numerado e caminha dentro das diversas instâncias da editora como um processo anda na Justiça: lentamente, e com possibilidade real de extravio. Muito trabalho, muita gente mexendo, muito papel: uma editora é muito semelhante a um cartório e, assim, os problemas também se assemelham.

Impossível dizer se o follow-up, desde que feito corretamente e sem abusos, é bem aceito ou não pelas empresas. Sempre se deve ter muito cuidado para não cair no ridículo, ou para não se tornar ‘o escritor-chato que liga toda segunda-feira para saber da apreciação do seu original’.

De um lado, perguntar sobre o trabalho demonstra interesse mas, de outro, evidencia ansiedade e imaturidade. Vale pesar bem as duas opções e verificar qual delas é a melhor saída para atenuar as sensações que se abatem sem misericórdia sobre o escritor (e principalmente, sobre um poeta) nesse momento crítico de espera.

Mas existem antídotos para suavizar essas tormentas, não se deixe abater.

Os antídotos se resumem a dar sequência ao trabalho. Se isso serve para dor-de-cotovelo, também serve para autor em regime de latência. Agora é continuar a investir no projeto inicial, justamente naquele projeto que foi traçado antes da idéia para o primeiro livro. E isso não é pouca coisa.

Como Dory, do filme ‘Procurando Nemo’, lembre-se: ‘continue a nadar, continue a nadar…’

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